quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Referências a algumas capacidades e procedimentos envolvidos na leitura e na escrita como práticas sociais

A escrita como processo discursivo*
A escrita é uma atividade que envolve várias tarefas sequenciais ou simultâneas e não-lineares.
A produção de um texto só tem sentido e se realiza dentro de uma prática social. O que nos faz produzir um texto é a motivação, a razão para produzi-lo: dar nossa opinião, defender um ponto de vista, reivindicar um direito, relatar uma experiência, falar sobre o que sentimos, apresentar um trabalho, provar que sabemos escrever para passarmos por algum processo de seleção...
A necessidade de escrever – a motivação – já desencadeia algumas informações sobre a nossa tarefa de produção, tais como:
q  Quais os objetivos do texto;
q  Qual é o assunto, e, linhas gerais;
q  Qual o gênero mais adequado aos objetivos;
q  Quem provavelmente vai ler;
q  Que variedade da língua deve ser utilizada;
q  Que grau de subjetividade ou de impessoalidade deve ser atingido;
q  Quais as condições práticas de produção: tempo, apresentação, formato.
Essa é a base de orientação sobre a qual o produtor vai construir o seu texto, monitorando-o para não fugir da “trilha”. Durante esse processo, estão implicadas três fases:
1)      o planejamento,
2)      a produção; e
3)      a revisão



Planejamento e produção:
a)      seleção de idéias:
a.       fazer anotações soltas e independentes
b.      fazer uma lista de palavras-chave
c.       anotar tudo o que vem à mente, desordenadamente, para depois coordenar as idéias;
d.      elaborar um resumo das idéias para depois acrescentar detalhes, exemplos, idéias secundárias;
e.       construir um primeiro parágrafo para desbloquear e depois ir desenvolvendo as idéias ali expostas
f.       escrever a idéia principal e as secundárias em frases isoladas para depois interligá-las
g.      elaborar inicialmente uma espécie de sumário ou esquema geral do texto;
h.      organizar mentalmente os grandes blocos do texto, escrevê-lo e reestruturá-lo várias vezes

b)      leitura para revisão:
a.       enfatizar as idéias principais
b.      reordenar as informações
c.       substituir idéias inadequadas
d.      eliminar idéias desnecessárias
e.       alcançar maior exatidão para as idéias
f.       acrescentar exemplos
g.      eliminar incoerências
h.      estabelecer hierarquia entre as idéias
i.        criar vínculos entre uma idéia e outra

c)      reescrita:
a.       acrescentar palavras ou frases
b.      eliminar palavras ou frases
c.       substituir palavras ou frases
d.      transformar períodos, unindo-os, por meio de conectivos ou separando-os por meio de pontuação.
e.       Acrescentar transições entre os parágrafos;
f.       Mudar elementos de lugar, reagrupando-os de forma diferente;
g.      Corrigir problemas gramaticais.


A última leitura, depois de considerarmos o texto pronto,deve “rastrear” problemas em relação à norma culta, se for o caso, na superfície do texto: ortografia, pontuação, acentuação, concordância, regência.

Algumas das capacidades envolvidas na produção de textos


Exemplos de

Gêneros


Reconhecer e fazer uso dos elementos dos
tipos de texto

Capacidades

Carta, diário, autobiografia, monólogo, diálogo
Narração / descrição /argumentação
Saber transcrever e falar de si mesmo
Relato, resumo, conto, fábula, crônica
Descrição / narração / exposição / argumentação
Saber ordenar e explicar
Anotações, roteiros, resumos, telegrama, relatório, esquema
Descrição / narração / exposição / argumentação
saber ordenar e explicar
Conto, fábula, poesia, normas, piada,
Descrição / narração / exposição / argumentação
Saber fazer uso de recursos expressivos e enfáticos
Poesia, provérbio e epitáfio
Descrição / narração / exposição / argumentação
Saber fazer uso dos recursos expressivos da linguagem poética
Comentário, editorial
Descrição / narração / exposição / argumentação
saber confrontar e classificar, defender uma tese, determinar relações de causa-efeito


A leitura como processo discursivo

Assim como a produção, a leitura envolve processos mentais não-lineares, além de conhecimentos referentes à esfera de circulação de origem do texto. Desse modo, a compreensão vai se construindo durante o processo de leitura em que o leitor reconhece as particularidades do texto e da situação social em que foi produzido.

Algumas capacidades envolvidas na leitura de textos

Um leitor proficiente dispõe de capacidades como*:
  • Decodificação de signos;
  • Interpretação de itens lexicais e gramaticais;
  • Agrupamento de palavras em blocos conceituais;
  • Identificação de palavras-chave;
  • Seleção e hierarquização de idéias;
  • Associação com informações anteriores;
  • Antecipação de informações;
  • Elaboração de hipóteses;
  • Construção de inferências;
  • Compreensão de pressupostos;
  • Controle de velocidade;
  • Focalização da atenção
  • Avaliação do processo realizado;
  • Reorientação dos próprios processos mentais





Alguns procedimentos envolvidos para uma leitura mais produtiva:
  • Seleção e hierarquização da informação:
o   observar títulos e subtítulos
o   analisar ilustrações
o   reconhecer elementos paratextuais importantes (parágrafos, negritos, sublinhados, deslocamentos, enumerações, quadros, legendas etc)
o   reconhecer e sublinhar palavras-chave;
o   identificar e sublinhar ou marcar na margem fragmentos significativos;
o   relacionar e integrar, sempre que possível, esses fragmentos a outros;
    • decidir se deve consultar o glossário ou o dicionário ou adiar temporariamente a dúvida para esclarecimento no contexto;
    • tomar notas sintéticas de acordo com os objetivos.

  • Procedimentos de clarificação e simplificação:
    • construir paráfrases mentais ou orais de fragmentos complexos;
    • substituir itens lexicais complexos por sinônimos familiares;
    • reconhecer relações lexicais/ morfológicas/sintáticos.

  • Procedimentos de detecção de coerência textual:
    • identificar o gênero ou a macro-estrutura do texto;
    • ativar e usar conhecimentos prévios sobre o tema;
    • usar conhecimentos prévios extratextuais, pragmáticos e da estrutura do gênero.

  • Procedimentos de controle e monitoramento da cognição:
    • planejar objetivos pessoais significativos para a leitura;
    • controlar a atenção voluntária sobre o objetivo;
    • controlar a consciência constante sobre a atividade mental;
    • controlar o trajeto, o ritmo e a velocidade de leitura de acordo com os objetivos estabelecidos;
    • detectar erros no processo de decodificação e interpretação;
    • segmentar as unidades de significado;
    • associar as unidades menores de significado a unidades maiores;
    • auto-avaliar continuamente o desempenho da atividade;
    • aceitar e tolerar temporariamente uma compreensão desfocada até que a própria leitura desfaça a sensação de desconforto





* Fonte: Técnica de Redação – O que é preciso saber para bem  escrever. Lúcia H. do Carmo Garcez (2001). SP – Martins Fontes.
* Fonte: Técnica de Redação – O que é preciso saber para bem  escrever. Lúcia H. do Carmo Garcez (2001). SP – Martins Fontes.

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